Especialista Alerta para os Riscos do Gramado Artificial em Meio a Onda de Calor
A onda de calor que atinge o Brasil há uma semana está afetando diversas áreas, inclusive o esporte. O calor extremo pode impactar a saúde de atletas e profissionais de várias modalidades esportivas. Medidas como pausas mais longas para hidratação e alterações nos horários dos jogos são precauções necessárias para evitar problemas de saúde. No entanto, o cuidado com o gramado também é crucial, especialmente no caso do gramado artificial.
Os esportes realizados em gramados, como futebol, rugby, tênis na grama e futebol americano, geralmente ocorrem em espaços abertos, expostos diretamente ao sol. Nessas condições, é essencial prestar atenção especial aos cuidados com o gramado, conforme explica Maristela Kuhn, engenheira agrônoma especializada em gramados esportivos.
“Os gramados brasileiros são espécies tropicais, bastante resistentes ao calor. No entanto, é fundamental garantir uma irrigação adequada. Se a irrigação for deficiente, o gramado pode ficar queimado devido às temperaturas extremas.”
Apesar de requerer cuidados especiais em dias de calor intenso, o gramado natural consegue controlar a temperatura do solo de maneira mais eficaz.
“A célula da folha de grama transpira, liberando umidade, o que ajuda a reduzir a temperatura”, explica a engenheira agrônoma.
O mesmo não se aplica ao gramado sintético, especialmente em condições de calor extremo. Segundo Maristela Kuhn, as temperaturas no gramado sintético podem atingir níveis perigosos para a prática esportiva.
“Podemos comparar estando no centro de uma cidade com asfalto e em um parque com árvores e grama. A temperatura será muito mais baixa no segundo cenário. Estudos mostram que, sob as mesmas condições e localização, o gramado artificial pode ter 20 a 30 graus a mais que o gramado natural. Portanto, a diferença é significativa. O gramado sintético é uma estrutura plástica, e as temperaturas podem facilmente chegar a 80 ou 90 graus, podendo causar queimaduras nos pés dos jogadores, como já vimos diversas vezes.”
Gramado Sintético no Brasil
O “tapetinho”, como é apelidado por torcedores, tornou-se uma realidade no futebol brasileiro, gerando discussões sobre seu impacto no jogo e lesões. Apesar das polêmicas, o gramado sintético está presente em três estádios da Série A do Brasileirão: Allianz Parque (Palmeiras), Ligga Arena (Athletico-PR) e Nilton Santos (Botafogo).
Para adotar esse tipo de gramado, os clubes precisam obter um certificado de avaliação da FIFA. Alguns critérios avaliados incluem o quique e a rolagem da bola, a planicidade, a tração e a rotação da chuteira. Os parâmetros são os mesmos usados pela FIFA para avaliar gramados europeus.
Entre as vantagens desse tipo de gramado está a capacidade do estádio de sediar grandes eventos sem prejudicar a prática esportiva. Recentemente, Allianz Parque e Nilton Santos receberam megashows, como o da banda Red Hot Chili Peppers, do grupo mexicano RBD e do cantor inglês Roger Waters. Ainda estão previstos eventos, como o da diva pop Taylor Swift, sem que isso afete o estado do gramado. Diante disso, Maristela Kuhn destaca uma forma eficaz de controlar o calor nesse tipo de gramado.
“Os instaladores de gramado sintético costumam prever irrigação no gramado sintético. Mesmo sendo uma estrutura plástica, a irrigação é realizada para reduzir a temperatura. Portanto, esse cuidado é essencial no futebol e em outros esportes que utilizam pisos sintéticos durante períodos de alta temperatura. Não se deve realizar treinamentos perto do meio-dia sem prever várias irrigações ao longo da sessão. Caso contrário, os jogadores podem sofrer queimaduras na pele e nos pés.”
Problemas Crônicos com Gramados
O gramado sintético apresenta vantagens e desvantagens. Sua presença no contexto brasileiro ocorre após décadas de problemas com gramados naturais. Um exemplo recente é o Maracanã, principal estádio do país, que já recebeu duas finais de Copa do Mundo e a última final da Libertadores.
Apesar de sua grandiosidade e importância, o Maracanã enfrenta desafios com a qualidade do gramado. Entre dezembro de 2021 e março de 2022, o estádio passou por uma troca de gramado, com custo de R$4 milhões, prometendo aumento da qualidade e resistência. A opção foi por um gramado híbrido, misturando grama natural e fibras sintéticas, visando suportar a quantidade de jogos realizados pelos clubes Flamengo e Fluminense.
No entanto, as expectativas não foram atendidas. Em 2023, o estádio precisou de pausas para cuidados com o gramado, que apresentava condições ruins para os jogos. Uma dessas pausas, de 18 dias, ocorreu em agosto, após a partida entre Fluminense e Olimpia pelas quartas de final
Texto Por: Nicolas Cruz