O rascunho do texto final da COP28, divulgado mais cedo, nesta segunda-feira, 11, causou contrariedade entre os integrantes do grupo de negociadores do Brasil.
Durante conversa com jornalistas pouco depois da divulgação do texto, a ministra Marina Silva, do Meio Ambiente e Mudança do Clima do Brasil, não disfarçou o descontentamento com o trecho que trata dos combustíveis fósseis.
“Essa ideia do combustível fóssil desapareceu em termos de linguagem. Nós vamos continuar trabalhando para ter essa clareza”, afirmou.
Apesar da disposição para seguir à mesa de negociação, com a companhia de “muito café”, como afirmou Marina, o Brasil sabe que as próximas horas serão muito desafiadoras. Como disse a ministra, “quando se está diante de duas posições completamente diferentes, é preciso saber que aqui é um processo multilateral”.
“As coisas não acontecem em função da nossa vontade. Evidentemente, estamos empenhados para que possamos avançar, conversando com os dois lados antagônicos”, disse.
A ministra destacou o papel de um processo multilateral, mesmo com tantas divergências. “O maior exemplo disso foi em relação à questão das perdas e danos. A voz dos países em desenvolvimento, dos vulneráveis, à altura dos problemas, fez a diferença para o constrangimento rético em relação a países desenvolvidos”, disse.
Marina citou ainda a importância de a COP28 terminar contemplando um espectro amplo de temas, com uma série de agendas importantes para o clima. Entre elas, disse, estão a adaptação, a mitigação, as perdas e danos e, é claro, o futuro dos combustíveis fósseis.
Dois extremos
Secretário de Clima, Energia e Meio Ambiente do Ministério de Relações Exteriores (MRE), embaixador André Corrêa do Lago, também deu pistas do clima que tem dominado as conversas entre os países que participam das negociações na COP28.
“Da mesma forma que as ilhas (muitas sob o risco de desaparecerem por causa da elevação do nível do mar) manifestaram publicamente que não estão nem um pouco satisfeitas, tem atores extremamente importantes que querem a eliminação do artigo 39 inteiro. A batalha está nos dois extremos”, frisou o diplomata, sem dar pistas sobre quais seriam os países que se opõem a essa parte do esboço.
O artigo 39 do rascunho, citado por Lago, diz que os signatários do documento reconhecem a “necessidade de reduções profundas, rápidas e sustentadas nas emissões de gases de efeito estufa (GEE)” e apela aos negociadores para que tomem uma série de medidas, distribuídas em oito pontos.
Entre os pontos estão o compromisso de triplicar a capacidade de produção de energia renovável a nível mundial e duplicar a taxa média anual global de melhoria da eficiência energética até 2030, além da rápida eliminação progressiva do carvão não ativado e a limitação da autorização de novas instalações de produção de energia a carvão não ativado.